sábado, 14 de julho de 2012

Incipiente e Insipiente

Entre conversas que tive esta semana, acabei lembrando de um texto que eu havia produzido uns anos atrás para a disciplina de Língua Latina II. Trata-se de um texto em português, curto e de cunho literário, e que muito me agradou fazer. Decidi então compartilhá-lo aqui, por ser curto (uma página apenas), e caber na totalidade de um post sem trazer lágrimas a ninguém, e sem desafiar a capacidade da barra de rolagem de redimensionar a si mesma. Sem mais, fica abaixo o texto:

Incipiente e Insipiente

No princípio, é sabido, temos a virilidade. O ânimo, vivaz alento, que leva o varão ao belicismo quase que nato do homem – aquele do culto de Marte, o dito marcial. É este que instiga o vigor, que nos livra dos muitos rigores e nos apresenta o amor, em sua forma mais carnal.
A este impulso inconseqüente, uns chamam de vontade. Energia, talvez, ou disposição. De fato, é era de frutos esta, mas não só de festa é feita, uma vez que sua colheita é meramente corporal. Ao que concerne à mente, diria pois incipiente, sem querer ser reticente.
Triste período de homofonias agudas, e argutas. Pois a incipiência é cheia de insipientes, e dentre os incipientes, reina a insipiência. Não que seja pré-condição existencial da fase. De fato, conquanto a incipiência tende a ser abandonada, os verdadeiros insipientes não chegam à próxima etapa. A estes falta a chama Prometeana do saber, mas mais que isto! Antes do fogo, fátuo e farto, falta o ar, o sopro. Falta instilar no intelecto morto a vida, pois não há paixão sem respirar. Falta, portanto, a vontade.
Já aos incipientes, recomenda-se apenas a prudência. O tempo transcorrer-se-á, seguindo seu curso, e tão logo o fizer, terão atingido estes a maturidade. Assim, aqueles que antes muito faziam e pouco pensavam, agora muito pensam e pouco fazem.
Ó, pueril vivacidade que se vai, se esvai sem pudores. Perante todos, há pouco te fazias eterna, e agora não passas de efêmera lembrança do que foste. Lamurioso é o sofrimento latente! Angústia derradeira, horror preeminente! Sutil enquanto oculto, todavia, logo súbito, faz-se presente.
E assim, vai-se o ardor, torna-se o homem, sapiente. Ancião senil, o sábio, que demonstra voraz propriedade daquilo que fala. Mas eis que em sua fala, nota-se, porém, uma pontada de saudade.
Ora, o velho garboso, orgulhoso de si, critica pois o imprudente. Ó, imaturo! Irresponsável! Inconseqüente! Vai, estuda, trabalha, amadurece! Só assim, há de te tornares gente!, diz o idoso, amargurado. E de um todo descontente, vai até o espelho.
Seu reflexo não mente! Sim, ele tem maturidade. Mas e a energia, vida? A força? Pois foram-se todas! E só agora percebeu. Elas andam de mãos dadas com a jovialidade.
Rabugento, carrancudo, fecha-se o sábio para o mundo. E assim, tranca consigo aquilo que tem. Desse modo, torna-se inculto, pois de nada adianta o saber egoísta. Segue o velho, derrotista, para o túmulo da vida. Não há respirar sem paixão.
E ofende, critica e esmorece o incipiente, o insipiente.

K. O. Metzger

Um comentário:

  1. Por razões que conheces e desconheces, adorei o texto! Gosto dessa tua forma de escrita, e espero ver muitas páginas destas por aqui! :)
    Beijo beijo beijo

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