Entre conversas que tive esta semana, acabei lembrando de um texto que eu havia produzido uns anos atrás para a disciplina de Língua Latina II. Trata-se de um texto em português, curto e de cunho literário, e que muito me agradou fazer. Decidi então compartilhá-lo aqui, por ser curto (uma página apenas), e caber na totalidade de um post sem trazer lágrimas a ninguém, e sem desafiar a capacidade da barra de rolagem de redimensionar a si mesma. Sem mais, fica abaixo o texto:
Incipiente
e Insipiente
No
princípio, é sabido, temos a virilidade. O ânimo, vivaz alento,
que leva o varão ao belicismo quase que nato do homem – aquele do
culto de Marte, o dito marcial. É este que instiga o vigor, que nos
livra dos muitos rigores e nos apresenta o amor, em sua forma mais
carnal.
A este
impulso inconseqüente, uns chamam de vontade. Energia, talvez, ou
disposição. De fato, é era de frutos esta, mas não só de festa é
feita, uma vez que sua colheita é meramente corporal. Ao que
concerne à mente, diria pois incipiente, sem querer ser reticente.
Triste
período de homofonias agudas, e argutas. Pois a incipiência é
cheia de insipientes, e dentre os incipientes, reina a insipiência.
Não que seja pré-condição existencial da fase. De fato, conquanto
a incipiência tende a ser abandonada, os verdadeiros insipientes não
chegam à próxima etapa. A estes falta a chama Prometeana do saber,
mas mais que isto! Antes do fogo, fátuo e farto, falta o ar, o
sopro. Falta instilar no intelecto morto a vida, pois não há paixão
sem respirar. Falta, portanto, a vontade.
Já aos
incipientes, recomenda-se apenas a prudência. O tempo
transcorrer-se-á, seguindo seu curso, e tão logo o fizer, terão
atingido estes a maturidade. Assim, aqueles que antes muito faziam e
pouco pensavam, agora muito pensam e pouco fazem.
Ó,
pueril vivacidade que se vai, se esvai sem pudores. Perante todos, há
pouco te fazias eterna, e agora não passas de efêmera lembrança do
que foste. Lamurioso é o sofrimento latente! Angústia derradeira,
horror preeminente! Sutil enquanto oculto, todavia, logo súbito,
faz-se presente.
E assim,
vai-se o ardor, torna-se o homem, sapiente. Ancião senil, o sábio,
que demonstra voraz propriedade daquilo que fala. Mas eis que em sua
fala, nota-se, porém, uma pontada de saudade.
Ora, o
velho garboso, orgulhoso de si, critica pois o imprudente. Ó,
imaturo! Irresponsável! Inconseqüente! Vai, estuda, trabalha,
amadurece! Só assim, há de te tornares gente!, diz o idoso,
amargurado. E de um todo descontente, vai até o espelho.
Seu
reflexo não mente! Sim, ele tem maturidade. Mas e a energia, vida? A
força? Pois foram-se todas! E só agora percebeu. Elas andam de mãos
dadas com a jovialidade.
Rabugento,
carrancudo, fecha-se o sábio para o mundo. E assim, tranca consigo
aquilo que tem. Desse modo, torna-se inculto, pois de nada adianta o
saber egoísta. Segue o velho, derrotista, para o túmulo da vida.
Não há respirar sem paixão.
E
ofende, critica e esmorece o incipiente, o insipiente.
K. O. Metzger
Por razões que conheces e desconheces, adorei o texto! Gosto dessa tua forma de escrita, e espero ver muitas páginas destas por aqui! :)
ResponderExcluirBeijo beijo beijo