sábado, 7 de julho de 2012

Sobre o blog

Aparentemente, minha tentativa de blog não deu muito certo. Alguns amigos se queixaram do post muito longo, e sugeriram que botasse as páginas do livro em .pdf para baixar. Ainda não desisti de levar a idéia pra frente, mas sugestões são bem vindas, se é para tornar isto aqui útil ou agradável para alguém. Senão, não há propósito em continuar mantendo o espaço.

KEN TO HANA - O CÍRCULO DO KARMA

Vou postar abaixo dois parágrafos, que iniciam o primeiro capítulo de meu romance, e logo em seguida, um pdf contendo as oito primeiras páginas, para quem quiser ir além dos parágrafos.

 
A CORTESÃ DA CASA DE C E O RONIN VIAJANTE

Hideko apagou a bruxuleante luz da lamparina e ajoelhou-se, fazendo delicada porém automática mesura ao lado de Genmarô, o homem que por direito a possuiria naquela noite. No quarto penetrava uma brisa gélida, de atmosfera quase fúnebre, que atravessava os panos do leve e já entreaberto quimono de verão, fazendo Hideko arrepiar-se, e levando um calafrio que a percorria dos pés à cabeça. Seus olhos pouco faziam para esconder o pavor recatado da sordidez que era sua própria existência. Seu cliente, porém, parecia não se dar conta disso. Talvez, no seu conforto desregrado, de corpo solto no futon em completo desleixo, almejando somente o saciar de sua luxúria no receptáculo de prazer que a sua frente, de tão subserviente modo se dispunha, apenas não se importasse, uma vez que o calafrio que pelo doce corpo dela percorria fazia arrepiar-lhe os firmes e perfeitamente arredondados seios, que deixavam-se ver de soslaio em toda a sua alvura pela vestimenta frouxa, e também os cabelos da nuca que fugiam-lhe ao intrincado penteado, que era delicadamente desfeito na medida que a jovem soltava suas longas mechas.
Por mais que tentasse, ela já não mais poderia voltar ao seu ofício de cortesã, meretriz, prostituta. O ato de heroísmo desmedido do intrépido ronin1 que a salvara dias atrás havia lhe deixado um vácuo tormentoso que agora era preenchido por dúvidas, lamentos e desespero. Sua harmonia esvaíra-se de um todo, e ela sabia que era para todo o sempre. Não conseguia entender o porquê daquilo. Sua vida nunca havia sido nada além de sofrer, e ela já habituara-se há muito a ser menos que um objeto, um instrumento de prazer, hinin2. Se a tivessem capturado, recuperado-a, carregado-a de volta para o maior de seus medos e o mais abominável de seus castigos, teria dado fim à própria vida sem hesitar, e tudo seria resolvido em uma curta viagem ao eterno vazio. Mas ela estava a salvo, embora não pudesse ter certeza de por quanto tempo, e ainda assim, a parte mais sombria de seu ser desejava não ter aquela segurança.
1Ronin: um samurai sem mestre, não-avassalado. Um pária dentre os samurais.
2Hinin: uma “não-pessoa”, na estrutura de castas da sociedade japonesa da época.

(para continuar a ler, efetue o download do arquivo abaixo):

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