Tinha dado uma sumida daqui. Virei professor de ensino médio, pra quem não sabe, e isso está consumindo boa parte do meu tempo, por enquanto. Hoje, no entanto, veio na cabeça um texto, e tive que escrevê-lo. Gostei do resultado, e decidi postar. Volto a postar o mais breve possível. Espero que gostem.
Mens Sana In Corpore Sano
Mente que
desmente na desocupação ocupada e se sente desocupada na ocupação
atarefada, fala o que sente, não mente, quando está desatrelada,
mas se amarrada, sente, remói-se, contorce-se, impotente.
Nos
campos de sátiros e ninfas oculta-se, busca refúgio e claustro
certo. Mas quando posta perante o mundo reto, angular, quadrado,
acua-se de medo. Lampejo do desejo de criar, aquilo que dá forma à
vida é o sonhar descompromissado. O sonhar atarefado mente: sequer
existe.
E nos
refúgios profundos desta mente triste, hesitante em ser o que um dia
foi, ou que ao menos pensara ser, ficam as dúvidas mais vis que a
ignorância absolve. Ouve, mente, não é fugindo que resolve. És o
que és, e nada mais. Utopia chamada paz é aquela almejada sempre,
encontrada dificilmente, e nunca mais que brevemente.
Impaciente,
esta mente se retrai. Torna-se só consigo mesma, uma mente
solitária. E na solidão, brota a razão arbitrária, cuja verdade é
sempre turva, mas mais absoluta que contrária. Pois a contrariedade
não vem com a solidão. Esta enrijece a mente, a enche de razão sem
razão, coerência incoerente.
É na
soma com outra mente que se deixa de mentir, e se busca ser presente,
consciente, agente da mudança, concreta ou abstrata. Mas a mente
também mata, mata a gente sem razão. Ora, pois, se infeliz, como
pode ter a paz? Mas não recua mais, busca de novo aquele cantinho
tranquilo, onde um dia habitaste! É o que diz-se à pobre mente, que
queria, mas não pode mais.
O corpo
ocupado faz a mente padecer. O tempo esgotado mata a criatividade. É
só o despreocupado que pode achar tranquilidade para ser quem ele é.
E o despreocupado sempre é desocupado, e nesse ócio latente,
esquece-se de usar a mente que o dota de poder. De mudar. De criar.
De ser.
E deixa
de ser algo singular, vira uma soma, parte de uma coletividade.
Coletivo de mentes ausentes, impotentes e doentes. Adoece e morre
antes mesmo de viver. A mente que não pensa, mente.
K. O. Metzger
Sinto um desabafo poético nesse texto rsrsrs
ResponderExcluirparabéns kauê, quem diria que o cara que berra loucamente e fala chiado seria o autor dessa obra repleta de frases... dignas de ser citadas orgulhosamente em meio a uma conversa haha Muito bom mesmo, estou ansiosa para ler obras mais longas!
Que texto gostoso!
ResponderExcluirRealmente um desabafo teu, e no qual me enquadro tão bem!
Adoro o jogo de palavras, adoro os significados que escondes por trás de cada frase numa entrelinha que salta aos olhos!
Adoro o que escreves, e torço sempre por mais e mais pra ler!
Beijo gigante de fã! :)