terça-feira, 21 de agosto de 2012

Voltando depois de um sumiço breve

Tinha dado uma sumida daqui. Virei professor de ensino médio, pra quem não sabe, e isso está consumindo boa parte do meu tempo, por enquanto. Hoje, no entanto, veio na cabeça um texto, e tive que escrevê-lo. Gostei do resultado, e decidi postar. Volto a postar o mais breve possível. Espero que gostem.

Mens Sana In Corpore Sano

Mente que desmente na desocupação ocupada e se sente desocupada na ocupação atarefada, fala o que sente, não mente, quando está desatrelada, mas se amarrada, sente, remói-se, contorce-se, impotente.
Nos campos de sátiros e ninfas oculta-se, busca refúgio e claustro certo. Mas quando posta perante o mundo reto, angular, quadrado, acua-se de medo. Lampejo do desejo de criar, aquilo que dá forma à vida é o sonhar descompromissado. O sonhar atarefado mente: sequer existe.
E nos refúgios profundos desta mente triste, hesitante em ser o que um dia foi, ou que ao menos pensara ser, ficam as dúvidas mais vis que a ignorância absolve. Ouve, mente, não é fugindo que resolve. És o que és, e nada mais. Utopia chamada paz é aquela almejada sempre, encontrada dificilmente, e nunca mais que brevemente.
Impaciente, esta mente se retrai. Torna-se só consigo mesma, uma mente solitária. E na solidão, brota a razão arbitrária, cuja verdade é sempre turva, mas mais absoluta que contrária. Pois a contrariedade não vem com a solidão. Esta enrijece a mente, a enche de razão sem razão, coerência incoerente.
É na soma com outra mente que se deixa de mentir, e se busca ser presente, consciente, agente da mudança, concreta ou abstrata. Mas a mente também mata, mata a gente sem razão. Ora, pois, se infeliz, como pode ter a paz? Mas não recua mais, busca de novo aquele cantinho tranquilo, onde um dia habitaste! É o que diz-se à pobre mente, que queria, mas não pode mais.
O corpo ocupado faz a mente padecer. O tempo esgotado mata a criatividade. É só o despreocupado que pode achar tranquilidade para ser quem ele é. E o despreocupado sempre é desocupado, e nesse ócio latente, esquece-se de usar a mente que o dota de poder. De mudar. De criar. De ser.
E deixa de ser algo singular, vira uma soma, parte de uma coletividade. Coletivo de mentes ausentes, impotentes e doentes. Adoece e morre antes mesmo de viver. A mente que não pensa, mente.

K. O. Metzger

2 comentários:

  1. Sinto um desabafo poético nesse texto rsrsrs
    parabéns kauê, quem diria que o cara que berra loucamente e fala chiado seria o autor dessa obra repleta de frases... dignas de ser citadas orgulhosamente em meio a uma conversa haha Muito bom mesmo, estou ansiosa para ler obras mais longas!

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  2. Que texto gostoso!
    Realmente um desabafo teu, e no qual me enquadro tão bem!
    Adoro o jogo de palavras, adoro os significados que escondes por trás de cada frase numa entrelinha que salta aos olhos!
    Adoro o que escreves, e torço sempre por mais e mais pra ler!
    Beijo gigante de fã! :)

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